Minéia Virgínia Negrão, 29 anos, é a sétima filha de uma prole de 8 irmãos. Ela foi a única que nasceu com glaucoma congênita, que a levou à total perda da visão aos 11 anos. Mas Minéia também é a única de sua família formada em ensino superior. Seu diploma de conclusão no ensino superior em psicologia na Univille é mais do que um motivo de felicidade: é um atestado de que ela é muito mais forte do que imaginava.

“Tive uma infância normal”, conta Minéia, que nasceu em Santa Cecília e cresceu em São Francisco do Sul. “Como cresci em um sítio, brincava com outras crianças e até subia em árvore. Fui perdendo a visão aos poucos”, relembra. Apesar de ficar cega, Minéia nunca deixou de estudar, fazer amigos e viver uma vida comum a qualquer jovem da sua idade. Ela se formou no magistério e, depois, resolveu encarar o ensino superior em Joinville. “Escolhi psicologia porque sempre gostei de ouvir as pessoas. Ouvir, sugerir e orientar”, explica. Foi assim que começou sua trajetória na Univille.

Durante dois anos, Minéia se locomovia de São Francisco do Sul até Joinville de van. Depois, fazia o trajeto com ônibus convencional.

O desafio mesmo foi adaptar os conteúdos bibliográficos para formatos acessíveis, como arquivos de texto para serem lidos no computador através de software de voz, ou materiais em Braille para leitura tátil.

“Enquanto fui acadêmica, procurei diminuir minhas dificuldades educacionais, sugerindo aos docentes medidas para facilitar o processo de ensino e aprendizagem. Quase sempre, os professores adotavam minhas sugestões. Eles disponibilizavam os slides por email e para aplicação das provas levavam o arquivo no pendrive”, relembra.

"Em minha trajetória cotidiana, ao me locomover sem enxergar nada, poucas vezes passei por alguma situação em que me senti perdida, as pessoas em geral são muito solidárias e tem boa vontade em ajudar".

Hoje, com o diploma de psicologia em mãos, Minéia não pensa em parar. Ela pretende se especializar em psicologia clínica e está de casamento marcado para 2015. Ela conheceu Israel em 2011, durante o XIV Encontro Dosvox, que ocorreu em Goiânia. Ele tem baixa visão e é graduado em dois cursos superiores. "Acredito que as pessoas devam sempre correr atrás dos seus objetivos. Quanto aos estudos, estar em constante aperfeiçoamento. Nunca desistam dos seus sonhos". Abaixo, confira um poema elaborado por ela a respeito de inclusão.

 

Tempo de Inclusão (Minéia Negrão)

 

É tempo de cingir-se da força do amor e matar o preconceito.

Abrir um espaço para quem sempre sonhou e nunca teve direito.

Tempo de sonhar em transformar sonhos em realidades.

Contribuir para selar a lacuna da desigualdade.

Tempo de olhar além do exterior, valorizar a essência do ser humano.

É tempo de respeitar as diferenças, compartilhar oportunidades.

Lembrar aqueles limitados por deficiências, mas ricos em capacidades.

Tempo de ouvir os que falam com as mãos.

Olhar com outros olhos, os que somente olham com os olhos do coração.

Tempo de entender os que não podem explicar.

E com isto aprender nunca da vida reclamar.

Tempo de nas trilhas das conquistas criar lugares para mais alguns, quem sabe os excluídos por limitações.

Tempo de ensinar incluir no princípio da existência.

E quando tiverem o poder nas mãos saberão valor das diferenças.

Tempo de florescer projetos de inclusão.

Tempo de morrer a erva discriminação.

Veneno feroz, que a tantos já matou.

E de muitos a voz já calou.

Tempo de entender que o mundo nas diferenças se completa.

E se alguém excluído ficar é como um quebra-cabeça faltando uma peça.

É tempo de sentir necessidade de promover a inclusão.

No trabalho, na família na universidade e no coração.